Segue abaixo um comentário sobre o texto da charla de Silo em Punta de Vacas, 30 anos após sua
primeira charla pública, no mesmo lugar, tratando entretanto de um assunto bem diferente.
No final desta página, você encontrará o texto original da arenga de Silo em espanhol, o texto
traduzido para português, para download em diversos formatos, ou para serem visualizados neste
site. Encontrará também o arquivo em mp3.
Muitos tiveram pouco contato com o Movimento, e por isso não podem compreender exatamente de que Silo
está falando, enquanto outros poucos tiveram contato prolongado, e já não podem compreender coisa
alguma.
Para os primeiros apresentamos um curto retrospecto, para os segundos, não há nada que possa ser dito.
Há muitos anos apareceu o Movimento Humanista de Silo, com outros nomes, formas organizativas e modos
de trabalho.
O importante a ser estabelecido aqui, é que a meta deste findo movimento sempre foi, como era apresentada,
"Humanizar a Terra". Este foi o motor do Movimento, expresso por diferentes pessoas, em diferentes
países, de variadas formas, durante as últimas 4 décadas.
Não foi um movimento casual e esporádico. Sempre foi organizado, sempre teve um corpo doutrinário
bem definido, sempre orientou-se por objetivos de curto prazo bem definidos, de modo bem determinado,
que apontava sempre ao objetivo maior.
O que mais interessa aqui é o fato de ter, desde o nascimento, um prazo determinado: 36 anos.
Ou seja, o Movimento atingiria seu objetivo neste tempo, ou fracassaria. Isto não seria em uma semana,
nem em 123 anos, seriam 36 anos. E mais um prazo de até 10%, para eventuais atrasos.
Por que 36 anos? Não é um mistério.
Em sua visão de mundo, em suas doutrinas, em suas práticas pessoais, os movimentarianos acreditam que
o indivíduo pode mudar o rumo não só de sua vida, mas também da sociedade. Hoje vivemos o momento da
globalização, não somos mais povos isolados, mas uma grande aldeia global. Isto implica em que mudar o mundo,
hoje em dia quer dizer mudar o mundo todo, literalmente, ou seja, todo o planeta.
Este não é um comentário solto, desde os primeiros textos siloistas já falava-se desse momento.
E falava-se nisso por varias razões. A mais importante é que quando se fala em mudar a si mesmo ou
em mudar o mundo como algo real e tangível, não se deixa de levar em conta a situação em que se vive.
Num exemplo bem simples, um aluno que termina seu ginásio e inicia o colegial, pode escolher, em muitas
escolas, se deseja estudar na área de humanas, exatas ou biológicas. A decisão é, em última instância,
pessoal. Três anos depois, aquele que escolheu humanas, caso deseje fazer concurso vestibular para
matemática, vai ter sérios problemas, e provavelmente fracassará. Pode então decidir, novamente,
se seguirá sua vida em alguma carreira que não goste, e talvez arrepender-se sempre, ou não
entrar na faculdade, estudar novamente por mais um ou dois anos, e então tentar novamente.
As sociedades também têm seus diferentes momentos; o processo pessoal e social é paralelo para o
humanismo siloista. Os movimentarianos dizem que vivemos na pré-história da humanidade, e que
a verdadeira história só ira começar agora, com a interligação de todas as culturas humanas, e
novas sínteses culturais globais. Este processo será, para o movimento, uma hora de grande crise
planetária. Esta grande crise é o momento certo para fazer algo, para tentar desviar o rumo das coisas,
para buscar um mundo humanista e não-coisificante.
Pois bem. Seria impossível tentá-lo cem anos atrás, e será tarde daqui a mais cem anos. O destino
da humanidade estaria, assim, sendo definido nestas últimas cartadas do fim de século.
Para isto os movimentarianos lançaram seu projeto, que deveria ter três etapas, cada qual com 12 anos
parta ser cumprida.
Na primeira, Silo teria encontrado, ou teria sido encontrado, por seus primeiros escolhidos, seria
uma etapa de ESTUDOS, com um círculo reduzido e muito fechado de iniciados, e um discurso
sobretudo místico e messiânico, onde Silo é visto como o novo redentor, que busca iluminar a mais
tantos outros escolhidos, para que possam levar sua nova moral e salvação a toda a humanidade.
Isto é bem específico. Há vasta bibliografia onde o mestre é explicitamente apresentado, como dizia
um dos escolhidos, "senão como Deus, pelo menos como UM DEUS." Na própria fala pública de Silo, em
Punta de Vacas, trinta anos atrás, lê-se : " ...Declaro ante vocês minha inamovível fé e minha certeza
de experiência, em respeito a que a morte não detém o futuro...". É isso mesmo que você está lendo:
Silo afirma ter morrido, mas estar novamente entre nós.
Na segunda fase, teríamos a ETAPA DE FORMAÇÃO DE QUADROS, quando o círculo movimentariano ampliou-se
consideravelmente. Para isso alterou um pouco o discurso, experimentou discursos novos, fez todo
tipo de atividade social que lhe ocorreu naquele momento, tomou e descartou dezenas de nomes e
manifestos. Até hoje, as lideranças do Movimento são provenientes daquelas duas antigas etapas
originárias. Um ponto importante a ser destacado no final daquele período, foi a adoção do discurso
político, com o lançamento de partidos humanistas e mais tarde verdes, ou a tentativa de lança-los,
em vários países do mundo.
Era o início da ETAPA DE MASSAS, quando finalmente a verdade seria revelado e mundo veria o novo
caminho. Muitos militantes saíram naqueles dias, já que o discurso anterior, era fortemente, e
explicitamente, a-político. Mas é claro que os melhores, os humanamente melhores, portadores de almas
mais elevadas, que reconheciam o novo messias e nele criam, ficaram, e assim a história continuou.
O círculo ampliou-se drasticamente. Cerimoniais esotéricos de iniciação, de mudança de nível dentro da
hierarquia, de matrimônio dos membros, morte, nascimento, etc., desapareceram. Os títulos dos chefes
mudaram, dos demais cargos também, os textos messiânicos sumiram, e um discurso mais moderno
passou a ser usado.
Encurtando a história, estas três etapas acabaram. Os prazos chegaram ao fim. Os objetivos não
foram atingidos. O que havia de específico nestes objetivos?
O mais importante era alcançar um determinado número de membros participantes ativos, no interior
da organização. O resultado foi triste: não se chegou à metade, mesmo fazendo uso de um recurso
que nunca saiu de moda entre a maior parte dos movimentarianos: inflar os números, ou seja,
se você é membro, pode contar também a seu pai, mãe, esposa, filhos, avós por ambos os lados,
o gato, o cachorro, a amante, e sua família. Tivermos a oportunidade de conversar com pessoas
que moram a centenas de quilômetros dos centros de atividade, porém entraram neste censo final,
já que falavam com alguém dos antigos círculos com certa freqüência, telefonicamente, por cinco minutos,
a cada três meses.
Mas o que acontece agora? Do que vai viver toda aquela gente que se tem mantido exclusivamente dos
fiéis movimentarianos da terceira etapa? Como vão fazer todos aqueles que têm sua participação como
principal terapia existencial?
A resposta parece ser simples... como disse nosso presidente, "esqueçam tudo que eu escrevi...".
Contrariando toda a análise feita anteriormente sobre o momento social globalizado, durante décadas
apresentada como revelação de um ente superior, deixando de lado sem uma palavra cada apresentação
feita durante décadas, simplesmente diz-se que não aconteceu nada e tudo segui como deveria ser...
Apesar disso, foi o fim daquele movimento o que se viu este ano em Punta de Vacas.
Restou uma associação sem sentido, metas, doutrina, ou qualquer moralidade, que dará o
pão-com-caviar-por-cima para garantir o sustento de alguns, ou a oportunidade de uma boa terapia
existencial para vários outros ("já humanizei a terra bastante hoje, ao contrario de meu vizinho
inferior, e agora vou ver TV sossegado...").
A história movimentarista é triste. Para cada pessoal que lá está hoje, devem haver umas 4 ou 5 que
gostariam de nunca tê-los conhecido, muitos dos quais tiveram suas vidas desestruturadas por
décadas, suas esperanças no ser humano praticamente extintas.
Mas o mundo é assim. Vários indivíduos já marcaram datas seguidas para o fim do mundo. Quando
erravam, simplesmente marcavam outra. E depois outra. E muitas outras previsões todas erradas.
Apesar disso, algumas religiões seguiram e seguem crescendo. Alguém poderia perguntar se há algum
resquício de vida inteligente em seus fiéis...e responder que é obvio que não.
Com os movimentarianos é o mesmo. Sempre haverá gente querendo acreditar, acreditar em qualquer coisa
que justifique a vida. E esses sempre serão alvo fácil para os mais espertos e imorais.
Outros deveriam, no entanto, por as mãos na cabeça, pensar direito, pesar 30 ou 40 anos de história,
de milhares de conversas, de milhares de papeis, pesar toda a desejado coerência interna dos mais
diversos métodos e práticas do movimento, e tomar em seu amplo e pleno sentido as palavras
"fracassamos e não atingimos nossos objetivos."
Para visualizar a fala de Silo no original em espanhol, clique aqui.
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Para download da charla em formato mp3, clique aqui.(2 MB)
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